Vou contar a história de uma menina:
Lê o jornal:
"Seu ritmo veloz e escrita altamente fluída com imagens surpreendentes remetem à intensidade das experiências narrativas, influenciando diretamente pela 'prosódia bop espontânea' de Kerouac. Assim como os demais beats, Allan Ginsberg considerava que o único fermento para a criação era a entrega total a uma vida marginal intensamente vivida e a aceitação das experiências mais miseráveis como “necessárias para o processo de purificação da existência”
Essas palavras foram intensas na cabeça da menina. Pensava. De um lado para o outro andava. Estava triste, ou infeliz, o que preferir. A dor de cabeça de situações mal resolvidas a corroia profundamente por longos dois dias. E gostava de mostrar isso pra todo mundo. Inocente, a sua mãe. Achava que a menina era uma suicida, nunca passara pela sua cabeça se suicidar, talvez eu saiba o porquê. “Eu tinha uma Conhecida. A Conhecida ficava uma mulher. Essa mulher resolveu suicidar-se pela Conhecida, por paixão, amor, doença ou coisa parecida e deixou uma carta para ela em cima de sua escrivaninha, uma carta enorme e selada, com o nome da ‘Conhecida’. A sua mãe viu, e em respeito da filha morta não abriu e deixou a conhecida ler primeiramente.” Se fosse com a menina, com certeza sua mãe abriria a carta e ficaria sabendo de tudo, sem respeito com a filha, então, ela vivia... Queria viver ainda, pra mostrar pra todo mundo que o discurso decorado 'a humanidade é louca' é verdadeiro e que elas acreditem realmente e façam alguma coisa, ou pra que as pessoas percebam sua infelicidade momentânea, só; ou ainda tem esperança de ser feliz, sei lá. No final de tudo, a menina me confessou que toda sua dor de cabeça e loucura, baseada na reportagem, foi para fugir da equação de 1° grau da vida: Consciência + coisas com que eu ocupo meu tempo . x + equilíbrio = felicidade, que não deu certo nos últimos dias. Ou pra tentar alcançar um novo estado de espírito que a faça aprender algo, como Burroughs referia seu vício em heroína, como um "experimento que ele realizava". Talvez ela só estivesse experimentando a infelicidade.
A menina chorava, chorava muito, mas parou de chorar quando, do quarto, escutou sua mãe falar com seu pai. “Ela saiu pela porta?” “Não, está no quarto, não saiu”. A sua mãe só se contentava em sua filha estar com ela, dentro dos seus territórios, possuí-la, agora se dentro do quarto estava infeliz ou não, pouco se importava.
O vermelho dos olhos saiu, as olheras e o rosto desincharam e passada a idéia de greve de fome, foi à cozinha comer umas azeitonas, pra quem é criado em apartamentos é característico solidão com azeitonas. Sentou-se na escadinha da área de serviço e olhou para as crianças, de outra casa, brincando livremente envoltas à piscante Árvore de Natal, e sentia uma mão acariciando sua cabeça, seu irmão mais velho, aqueles que fazem faculdade e você ainda está na escola, sabe? Grita por dentro: “EU NÃO SOU COITADA” e por fora balança de leve a cabeça, o irmão sai.
Duas horas depois.
E falar que a menina era anti-social era inovador, ela queria ficar em casa, obrigaram a menina a sair. Chegava a ser engraçado, ela cumprimentava de cabeça baixa, ia até a sacada da casa e esfregava em sua mão e em seu rosto, a terra da planta dos burgueses, a terra era tão chique que havia pontinhos dourados de tinta, esfregava e ficava suja, preta (com pontinhos dourados), chorava e ficava borrada. Ela queria sumir. Estava cansada, tentou dormir na sacada, mas havia partes de seu corpo descobertas que passavam muito frio, tentava cobrir com sua bolsa e seu casaco, mas era impossível, o desconforto de uma sacada dura para quem sempre dormiu em colchão macio. Então resolveu ficar acordada e resguardar todo o ódio para descontar de uma forma mais drástica, escutava as comemorações como: "Minha filha passou na primeira fase da USP" ou "amanhã o corinthians vai pra segundona!!" e se cansava, o tempo passava, o cansaço era tanto que o desconforto não a incomodava mais, só aos outros, a menina que dormia na sacada.
Acorda, e já está em sua cama. Tenta dormir, pois manhã há de ser outro dia...
Resposta à pergunta do título: Eu não. A menina talvez. E vc?
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
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5 comentários:
Blog legal ... ano que vamo conhecer uma galera nova , seja bem vinda ...
Bjos
Tt
Num dos meus constantes surtos de pessoa essencialmente ideológica - que buscava entender a crueldade do mundo para traçar estratégias de caráter heróico - pus-me a pensar se, de fato, minha entrega a uma causa maior significaria algo ao cenário mundial...
Pensei, também, que existem coisas maiores do que minha própria existência e que, talvez, merecessem minha dedicação.
Tais pensamentos intensificaram-se e não me permitiram perceber que, seria necessária uma base concreta onde eu pudesse sair do plano abstrato do pensamento e partir para o plano da ação. Acredito que aí encontra-se o maior erro dos idealistas... A consciência mantêm-se munida de um discurso que domina o pensante e cai no romantismo utópico onde, abstratamente, resolve-se as "moléstias do mundo".
Tais ideais podem condicionar as pessoas a uma hipocrisia quase que ingênua de "negação do princípio egótico" ou de "antipragmatismo".
A partir daí, percebi que o famigerado altruísmo idealizado ou a entrega radical de sua vida em prol dos outros (em teoria), é, antes de mais nada, algo destrutivo.
Portanto, se a cada dia eu me pusesse a sofrer com tantas desventuras e tristezas com as quais o mundo passa, entraria em profunda depressão e nada teria sido resolvido (pelo contrário, contribuiria para a cruel realidade).
Temos de aceitar uma pequena dose de hipocrisia (no sentido referente à omissão) a cada dia. Esta também pode ser chamada por um nome mais agradável: esperança. Busquemos um otimismo dentre tantas desilusões.
Acredito que minhas lágrimas não sejam de grande valor aos que sofrem. Acredito que elas só teriam sinceridade, se acompanhadas de atos que solucionassem problemas.
olá...
belo texto....
nem sei mais oq escrever viu...sem palavras...hehe
to adorando o grupo viu...
bjus
Adoooorei Thiago! E obrigada aí, Diego e Átilla!
Bjss
Tô gostando Helô. Continue assim.
Se eu conssigo? Sim, consigo.
Mas geralmente não costumo pensar nisso....
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