segunda-feira, 7 de julho de 2008

Heloisa e o menino rico


Alameda dos Aicás, esquina com a Bandeirantes. Moema. Isso foi no domingo passado. Havia tido um mês e meio de apresentações da minha peça de teatro, nos fins de semana. De segunda, quarta e sexta ensaiando e terça e quinta, lendo Stanislavsk e vendo Chaplin. Precisava espairecer. Então resolvi ir numa baladinha.
Famosa matinê, você beija um e dança, beija dois e dança... beija dezessete e dança. As meninas conseguiram VIP, ou seja, sem pagar um centavinho e no camarote. Camarote = uma pulseirinha florescente ridícula e refrigerantes grátis. Eu paguei 15 e ganhei o desejado camarote.
No começo estava chato; não gostava da música, das pessoas, de ver uma criança de dez anos fumando Malboro, minhas amigas fumando o pop “black de menta”. E eu, na minha água sem gás e sem gelo. Desperdicei minha saliva com um menino que não ficou comigo 37 segs, apesar dele ser musculoso e a tentação das ninfetinhas de lá.
A Gabi encontrou um amigo da Fecap, o Pedro. Que estava com dois amigos BONITOS, não exatamente o bonito que eu gosto, mas o bonito das vovós e da novela das cinco e meia, aquela que eu não quero pronunciar o nome. Gabi com Pedro. Carol com Renan. E Helô... eu, por quê eu? Sim. Você com Victor. Um beijo frio, mas ao mesmo tempo macio. Ele me encostou na parede e beijou. Parede espelhada. Estava de olho aberto. Imaginei que estivesse olhando pra ele mesmo no espelho e dizendo: “É, eu sou o fodão!”. Tentei dançar o Créu e voltei ao menino. Ele confessou que odiava o Creu. “Parabéns!” E fiquei mais surpresa quando confessou que desejaria que estivesse tocando Frank Sinatra ou Louis Armstrong. Resolvi parar tudo e reparar nele, o que nunca fiz nessas pseudo-baladas. O tipo de cara que limpa a bunda com libras esterlinas, mas ele é inteligentezinho.
Estava de sapato social marrom e camisa do jacarezinho. Morava na Vila Nova Conceição. Havia feito Casa do Teatro, aquela escola de teatro que o curso livre infantil de uma vez por semana custa R$ 251, 00. Trabalhava nas três indústrias de seu pai e amava sua irmã que estava estudando na Itália. “Eu tinha uma namorada, só que acabei com ela.” . “Por quê?” perguntei e ele não entendeu pronunciando tudo certo com um sotaque muito paulistano. “PeRdão?” “Por quê?” e a resposta: “Por que se eu trouxesse ela aquio, ela diria ‘que gente feia!’ e se trouxesse ela no Fazano, por exemplo ela diria ‘quanta gente velha’. Ah! Meu bem, me leva no Fazano e me paga uma coca-cola que eu já ganhei o dia. Continuei. Pois desde pequena fui educada assim: “Filha, escolha um namorado, rico, muito rico, milionário; que te leve em restaurantes caros e pague suas compras no shopping”. Aquilo não era minha essência, só a minha educação...! Trocamos telefone. Perguntou umas 10 vezes se eu iria lembrar dele quando ele ligasse em casa depois de sua viagem de 15 dias pra Europa. Depois falou que estava apaixonado por mim. Simples. Liguei pro meu pai do celular dele. A Gabi falou que era um chocolate, mas eu sei que fiquei com dificuldade de apertar o botão pra ligar. Fui embora dez horas. Não queria mais. Eu vou ligar pra ele, com certeza. E agüentar o que ele fala. E como esses burgueses falam, heim? O que fez, o que deixou de fazer, onde viajou, o que comeu, o que peidou, o que jogou. Lembrei da frase do Woody Allen: “Se ao menos o homem calasse a boca!”. Bom, nunca tive preconceitos, porque ter agora se ele pode pagar meu capuccino no Franz Café? Só preciso aprender a usar todos aqueles talhares inúteis que tem no Fazano. Pra quê tanto? Gasta mais água pra lavar a louça, Vic!

Próximos capítulos... "Heloisa e o menino inteligente". Eu sei que você não é obrigado a aguentar minha fase galinha, porém as divagações do menino inteligente são incríveis.

Frase da semana: "Não misturar bolacha recheada, pizza, batatas ruffles de cebola e salsa com soja e feijão, causa odores mortais!", " Não seja você, seja o quê você quiser!", essa tem nos livros da Zíbia?